Quando trabalhei na Alerj, convivi algum tempo com o deputado Sivuca. Pra quem não se lembra, ele é autor da terrível frase que hoje está impregnada na cabeça de muita gente: "bandido bom é bandido morto".
Nos anos 70, Sivuca fez parte da Scuderie Le Cocq, grupo de policiais civis que tocou o terror no Rio e executou muitos. Ele era um dos "Doze Homens de Ouro": matavam primeiro e nem se davam ao trabalho de peguntar depois.
Uma vez questionei o deputado: "se todo bandido bom é bandido morto, o que fazer se a pessoa foi presa injustamente e acabou morta?".
Ele, com toda sua naturalidade, respondeu: "esse no caso foi um azarado. Fazer o quê?"
A fala de Sivuca expressa o que alguns ultra-reacionários pensam a respeito do justiçamento, do agir com as próprias mãos e encarar como se fosse algo aceitável, compreensível.
O caso de Fabiane, no Guarujá, mostra até que ponto chegam o justiçamento e suas distorções: as redes sociais espalham um boato, a vizinhança encara como verdade absoluta e uma vida é perdida.
Tem quem ainda justifique que atrocidade foi a confusão dos vizinhos em achar que Fabiane seria criminosa. Quer dizer que se ela realmente tivesse cometido o crime, aí seria permitida a violência!? Em suma: matar não é algo atroz, confundir é?
Curioso que Sivuca foi parlamentar pelo PSC, que hoje integra o Marco Feliciano nos seus quadros. O partido só mudou o tipo de radicalismo. Saiu do sanguinário para o extremismo religioso.
E mais absurdo é constatar que Fabiane, para alguns, morreu por azar.
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