Reportar é testemunhar encontros.
Agendados, triviais, solenes, inesperados.
Surpreendentes.
Reportar é observar os paradoxos, apontar o contraditório. É presenciar realidades tão diferentes se imbricarem.
A plateia que assiste à audiência esboça diferentes reações.
Na primeira fila, todos anotam, teclam, cochicham, gravam as cenas de um julgamento que parece não ter fim.
Contam as horas para seguir suas vidas enquanto o destino de uma está sendo selado.
Tal como um big brother ou um panóptico, a vigilância sobre a figura - o réu - é constante. Um close, um clique em cada expressão diferente.
Não vale a inércia. Vale flagrar o sorriso.
Sorriso? Como pode o homem sorrir? De quê graceja aquele que transformou em desgraça o direito mais elementar de tantos outros?
As razões do regozijo estão na segunda fila.
Arisco, falante e manhoso, um rebento de dois aninhos destoa do rito silencioso da audiência. Um misto de choro, alegria, espanto e cansaço salta do pequeno que não faz ideia do que está acontecendo, do que aconteceu nem do que vai acontecer.
De longe, ele avista um homem sentado, olhar quase letárgico, braços entrecruzados que tentam esconder as algemas. Nas costas dele, dezenas de condenações e penas que dariam umas duas encarnações, no mínimo.
"Vovô!", ele grita.
"Vovô, vovô, vovô!", ele repete. Sem a reação tão desejada, o menino choraminga. A mãe tenta acalmar. Em vão.
O vidro separa o público do plenário. O avô não responde. O som de fora não ressoa lá dentro. E cada sílaba proferida ali dentro é mais um passo que vai definir o futuro daquele homem.
Genocida, criminoso, traficante.
E avô.
Depois de mais de 10 horas de julgamento, a sentença é lida.
Nas falas do magistrado, fica claro que a Justiça é o retrato da vida. Ela não muda os fatos, ela constata os equívocos. É o homem quem modifica as coisas.
O juiz afirma que esperar algo que não fosse a condenação seria o mesmo que ver um pássaro construir seu ninho no fundo do mar.
E o homem é exemplarmente condenado.
Nessa hora, o menino já estava dormindo.
A vida do avô dele já está traçada. Para o bem de todos.
A vida do menino ainda não tem qualquer traço.
Que seja para o bem dele.
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